segunda-feira, 30 de março de 2015


mar azul cobalto







Fundo de levantes. Abismo em sono

profundo de águas.

De longe, chegam ao cais nas marés

desfeitas em versos.

Poemas calmos como o fundo do mar.

Em mistério, as margens rompem-se e as

águas unem-se como a poesia une olhares

coalhados pelo azul cobalto das palavras

profundas. Sem se cansarem, ondas

inscrevem o belo e o sábio no avesso do

mar, onde aves ébrias pelo silêncio

anunciam maresias de inspiração,

enquanto no pulsar do oceano cintilam

torrentes de sílabas que se aconchegam

em pátios de areia. Em visita, a

ondulação foragida das cristas

terrestres constrói rotas para as barcas

carregadas de estórias e segredos

temperados. No mar azul cobalto cresce a

imensidão do prado azul e no poema

cresce a pulsão profunda da palavra.

Zita Viegas



sexta-feira, 27 de março de 2015























Correntes de pérolas



Murmúrios de águas vindas da boca do rio

passam no horizonte frente ao meu olhar.

Num rosário de linhas aquieto os sonhos que segredo em voz alta.

Uns escassos dizeres que se soltam do grilhão da lógica para

se precipitarem no sentir que se entoa no marulhar da água.

No bolinar do marés lanças correntes de pérolas que vêm

adornar o alto quente do meu peito.

Zita Viegas


segunda-feira, 2 de março de 2015

cais da ilha





O nevoeiro sorve montes. Sob o chumbo desfraldado tranças

os teus sonhos. Ilusões de ser pasmado.

Sombras. Entre brumas vem veloz a nostalgia.

Tu partes. Partes em dia cinzento mar. De coração vazio a chorar

a ilha.

O lugar da minha tristeza.

Partes incerto e de olhar disperso. Melancólico.

Adensado nas coisas mínimas. No silêncio da chuva.

No pó do sonho. No rugir velado dos dias.

Na mudez dos grilos.

Partes no Inverno.

O Inverno que rumoreja o peito. A estação talhada

na fímbria do mar. Onde a indolência dos céus enfeitiça o coração

submerso em solidão.

Emudeço na rocha fendida.

No cais, nós de vento compõem ondas cortadas pela quilha.

No cais a matar saudades é o fim.

Quanto dói amar? É sempre?

Segredo de mãos ausentes nos confins do mar.

Na ilha.


Zita Viegas


insulanas vestem de cor amora serra








Mar cerrado em praias de nuvens
afagam a terra negra quase formosa
na longa urdida e firme prosa
adensando a saudade dos homens.

Mar coalhado no longo olhar
sopra luto das desejadas amantes
segredando às rochas tristes sortes
amores afundados no árduo navegar.

Nas ilhas mareiam oceanos de corações 
afundam-se mortais secretas feridas 
no convulsar do horizonte penosas evasões.

Insulanas vestem de cor amora serra
e de olhar recortado nos picos de densas ondulações
esperam em murmúrio sobre o hálito dos torrões.



Zita Viegas