segunda-feira, 2 de março de 2015

cais da ilha





O nevoeiro sorve montes. Sob o chumbo desfraldado tranças

os teus sonhos. Ilusões de ser pasmado.

Sombras. Entre brumas vem veloz a nostalgia.

Tu partes. Partes em dia cinzento mar. De coração vazio a chorar

a ilha.

O lugar da minha tristeza.

Partes incerto e de olhar disperso. Melancólico.

Adensado nas coisas mínimas. No silêncio da chuva.

No pó do sonho. No rugir velado dos dias.

Na mudez dos grilos.

Partes no Inverno.

O Inverno que rumoreja o peito. A estação talhada

na fímbria do mar. Onde a indolência dos céus enfeitiça o coração

submerso em solidão.

Emudeço na rocha fendida.

No cais, nós de vento compõem ondas cortadas pela quilha.

No cais a matar saudades é o fim.

Quanto dói amar? É sempre?

Segredo de mãos ausentes nos confins do mar.

Na ilha.


Zita Viegas


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