terraços de lava
sexta-feira, 6 de março de 2020
Tudo acontece em veloz encontro
Só as rosas vermelhas
acendem os olhos,
que tocam o mundo.
Das flores que desabrocham
no inverno, desconfio.
Honram o cipreste,
e a sombra da idade.
Vivem o efémero nas hastes.
Tudo acontece no encontro.
As folhas,
no sono do vento.
Os rostos,
nas fendas do barro.
O suspiro, na fundura
dos ossos.
Tudo na vida é um veloz encontro.
No espelho, a vida acontece no sopro.
Zita Viegas
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020
O teu olhar
Olhar aberto convida,
a entrar na tua integridade do astro.
Os teus olhos oferecem
o princípio dos sentidos.
o princípio dos sentidos.
Em uníssono.
Existe o húmus do silêncio,
como se permanecesse em ti
a sonâmbula infância,
que se entrega à paisagem, sabor do mar e do mel.
que se entrega à paisagem, sabor do mar e do mel.
No teu rosto existe um sonho.
Com inteligência,
raízes com olhares nascentes.
Por em cada palavra tua, sentir-se
o ventre da árvore. Um anjo.
Num caminho,
a trajetória do vento no trigo, ensina.
a trajetória do vento no trigo, ensina.
Em perpétuo instante,
murmurado nos incêndios.
Amores. Mais fortes do que vida.
Perguntas: o que é estar na montanha?
É estar em embriaguez.
Em universo.
Rasga-se o instinto dos bichos e dos lugares.
Num sabor ao mosto do pensamento.
Um cântico. Uma alma, no tempo devorados
alma.
Uma infinita alma, dádiva, como se entoa a vindima.
Na suavidade do fruto e pele das cantigas.
Desabrocham as estações.
O outono ensina o ninho,
aos aprendizes que lhes faltam as asas.
Sempre com o equilíbrio das aves em nudez.
.
Vem acima do inaudível.
O som do violino, ouve-se a coragem dos vivos.
Pergunto-te: onde está a vida?
Respondes: está sempre onde perdes o medo.
Zita Viegas
segunda-feira, 30 de março de 2015
mar azul cobalto
Fundo de levantes. Abismo em sono
profundo de águas.
De longe, chegam ao cais nas marés
desfeitas em versos.
Poemas calmos como o fundo do mar.
Em mistério, as margens rompem-se e as
águas unem-se como a poesia une olhares
coalhados pelo azul cobalto das palavras
profundas. Sem se cansarem, ondas
inscrevem o belo e o sábio no avesso do
mar, onde aves ébrias pelo silêncio
anunciam maresias de inspiração,
enquanto no pulsar do oceano cintilam
torrentes de sílabas que se aconchegam
em pátios de areia. Em visita, a
ondulação foragida das cristas
terrestres constrói rotas para as barcas
carregadas de estórias e segredos
temperados. No mar azul cobalto cresce a
imensidão do prado azul e no poema
cresce a pulsão profunda da palavra.
Zita Viegas
sexta-feira, 27 de março de 2015
Correntes de pérolas
Murmúrios de águas vindas da boca do rio
passam no horizonte frente ao meu olhar.
Num rosário de linhas aquieto os sonhos que segredo em voz alta.
Uns escassos dizeres que se soltam do grilhão da lógica para
se precipitarem no sentir que se entoa no marulhar da água.
No bolinar do marés lanças correntes de pérolas que vêm
adornar o alto quente do meu peito.
Zita Viegas
Num rosário de linhas aquieto os sonhos que segredo em voz alta.
Uns escassos dizeres que se soltam do grilhão da lógica para
se precipitarem no sentir que se entoa no marulhar da água.
No bolinar do marés lanças correntes de pérolas que vêm
adornar o alto quente do meu peito.
Zita Viegas
segunda-feira, 2 de março de 2015
cais da ilha
O nevoeiro sorve montes. Sob o chumbo desfraldado tranças
os teus sonhos. Ilusões de ser pasmado.
Sombras. Entre brumas vem veloz a nostalgia.
Tu partes. Partes em dia cinzento mar. De coração vazio a chorar
a ilha.
O lugar da minha tristeza.
Partes incerto e de olhar disperso. Melancólico.
Adensado nas coisas mínimas. No silêncio da chuva.
No pó do sonho. No rugir velado dos dias.
Na mudez dos grilos.
Partes no Inverno.
O Inverno que rumoreja o peito. A estação talhada
na fímbria do mar. Onde a indolência dos céus enfeitiça o coração
submerso em solidão.
Emudeço na rocha fendida.
No cais, nós de vento compõem ondas cortadas pela quilha.
No cais a matar saudades é o fim.
Quanto dói amar? É sempre?
Segredo de mãos ausentes nos confins do mar.
Na ilha.
Zita Viegas
insulanas vestem de cor amora serra
Mar cerrado em praias de nuvens
afagam a terra negra quase formosa
na longa urdida e firme prosa
adensando a saudade dos homens.
Mar coalhado no longo olhar
sopra luto das desejadas amantes
segredando às rochas tristes sortes
amores afundados no árduo navegar.
Nas ilhas mareiam oceanos de corações
afundam-se mortais secretas feridas
no convulsar do horizonte penosas evasões.
Insulanas vestem de cor amora serra
e de olhar recortado nos picos de densas
ondulações
esperam em murmúrio sobre o hálito dos torrões.
Zita Viegas
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